Habilidades humanas para o futuro do Trabalho

Por: Brunna de Campos Veiga – CEO C-LEVEL Group 

No momento em que escrevo esse artigo estamos no final de 2022 e um número crescente de novas tecnologias exponenciais desenha o que parece ser o futuro da humanidade. Inteligência artificial utilizada para incontáveis aplicações, tecnologia 5G transformando o conceito de conexão e levando a IoT (internet das coisas) a uma aplicação inimaginável. Em poucas décadas evoluímos mais em tecnologia do que toda a história e isso nos traz um pouco do novo cenário que nos depararemos com relação ao futuro do trabalho e novas competências que serão cada vez mais demandadas aos profissionais.  

O desafio agora é termos a coragem de questionar tudo sobre as habilidades e competências que possuímos e as novas habilidades que serão necessárias à medida que avançamos para o futuro.  

Acredito que a tecnologia nos traz uma oportunidade enorme de automatizar um número cada vez maior de tarefas, sobretudo aquelas mais repetitivas, operacionais. Com isso, parte do trabalho realizado por humanos tende a desaparecer. É inevitável que algumas posições no trabalho se tornem obsoletas ou desapareçam, mas invariavelmente se abrirá espaço para novas oportunidades de trabalho e carreiras que ainda mal imaginamos. Portanto, acompanharemos uma mudança enorme relacionada a natureza do novo trabalho humano, trabalho este muito mais voltado a criar condições para florescimento de novas habilidades e competências e a tecnologia como aliada para que as pessoas aumentem suas próprias potencialidades em trabalhos onde competências essencialmente humanas irão se sobressair. 

Ao acompanharmos o avanço das tecnologias exponenciais, é relevante pensar como isso vai modificar a forma como definimos o trabalho. Se anteriormente o foco do trabalho estava na execução de tarefas no futuro estará em resolver os novos problemas que aparecerão. 

Estudo recente do WEF (World Economic Forum) reforça que embora o número de postos de trabalho destruídos seja superado pelo número de “empregos do futuro” criados, ao contrário dos anos anteriores, a criação de novos postos de trabalho está desacelerando enquanto a destruição do emprego acelera. Com base nesses números, estima-se que até 2025, 85 milhões de empregos podem ser deslocados por uma mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas, enquanto 97 milhões de novos postos de trabalho podem surgir mais adaptados à nova divisão do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos. A grande questão aqui está em desenvolver nos profissionais as novas habilidades que cada vez mais serão demandadas para que possam se inserir num novo contexto de trabalho. 

As principais habilidades apontadas pelo WEF como essenciais até 2025 traz grupos de competências como:  pensamento e análise crítica para resolução de problemas, habilidades em autogestão, aprendizagem contínua, resiliência e tolerância ao estresse e flexibilidade. 

Voltemos ao conceito de hard e soft skills. Enquanto hard skills ou competências técnicas tendem a se defasar rapidamente em um mundo de constante mudança e volatilidade, as soft skills ou competências comportamentais serão aquelas que permitirão ao profissional se adaptar no futuro do trabalho. Indo além, importante pensarmos em “competências duráveis” e “competências perecíveis”. Enquanto as duráveis refletem aquelas competências aplicáveis a diferentes contextos e cenários e permitirão ao profissional avançar e assumir diferentes desafios independentemente do cenário tecnológico ou mercadológico, as competências perecíveis são aquelas que após um curto período já estão defasadas e pouco servem para novos desafios que se apresentam. Tome-se como exemplo profissionais que se formaram na área da saúde há 10 anos atrás. Muito do que foi aprendido na faculdade já se tornou obsoleto e continuará a defasar-se rapidamente se não houver uma atualização técnica que permita a esses profissionais estarem conectados com novas tecnologias que se aplicam na sua área de atuação. Ciência segue evoluindo a um ritmo nunca visto. E isso serve para qualquer profissão.  

Nesse sentido, acredito que para o profissional estar preparado para o futuro do trabalho, existe a necessidade de aprendizado constante (life long learning) e consciência de que aquilo se sabe hoje, amanhã invariavelmente estará obsoleto. Mas o principal é desenvolver as competências “duráveis” que permitirão se adaptar aos diferentes desafios. E essas são essencialmente competências humanas sobre as quais a tecnologia ou a automatização de processos não conseguirão substituir. Mas quais são? 

Alguns exemplos de competências “duráveis” e essencialmente humanas: 

Pensamento Crítico – Diz respeito a capacidade de análise e julgamento dos fatos, de avaliar uma situação sob diferentes prismas ou perspectivas, incluindo avaliação lógica, análise de informações e a combinação de vários elementos para construir essa avaliação crítica. 

Comunicação – É o poder de transmitir uma mensagem identificando a melhor forma de transmiti-la de acordo com perfil de seu interlocutor, usando da assertividade e da empatia para que conceitos e ideias sejam compartilhados no tempo e da forma adequada com as pessoas. 

Colaboração – Competência relacionada a capacidade de atuar de forma colaborativa, compartilhando ideias e colocando-se como um recurso do time em prol de um objetivo comum. 

Criatividade – Habilidade de “pensar fora da caixa”, trazer soluções nunca experimentadas e sentir-se confortável em criar ideias e alternativas. 

Em todos os processos seletivos conduzidos pelas empresas da C-LEVEL Group invariavelmente nos deparamos com a necessidade de identificar essas e outras competências que permitirão ao profissional não apenas estar alinhado ao desafio atual proposto para aquela posição específica, mas sobretudo que o permita se ajustar às mudanças e novos cenários de trabalho que acontecerão naquela empresa e no mercado de trabalho como um todo. 

Em resumo, a tecnologia não acabará com o trabalho humano, mas o modificará exigindo novas habilidades, especialmente aquelas que são essencialmente humanas. O foco do trabalho muda da “execução de tarefa” para a “resolução de problemas” e profissionais que se adaptarem a esse novo contexto serão altamente desejáveis no mercado de trabalho hoje e no futuro.  

*Sobre a autora: Brunna Veiga é CEO da C-LEVEL Group. Executiva especialista em RH e consultoria, gestão de negócios e headhunter.

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